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Prazo de validade do dólar em queda deve expirar bem antes do fim do ano

Uma conjunção de fatores tem dado sustentação ao fortalecimento do real. No entanto, em poucos meses a hora da verdade chegará não só para a economia brasileira, mas também para a americana. E com eleições presidenciais pelo meio do caminho, a bonança refletida no câmbio parece estar com os dias contados

A rota de queda do preço do dólar nas últimas semanas no Brasil impressiona. Desde o pico alcançado em 2021, os R$ 5,79 do fechamento de 9 de março, a desvalorização foi de 8,5%. Esse movimento reduziu a apenas pouco mais de 2% a valorização acumulada neste ano, até o momento ápice, então de mais de 11%. E, não concidentemente e mais importante, em paralelo ao realinhamento parcial dos juros aos riscos oferecidos por aqui.

  • Problema: para a rota de queda do dólar não ter só mais alguns meses de fôlego, melhor seriam riscos se alinhando ao patamar módico de juros do que juros subindo ao nível elevado de riscos da economia brasileira. Entre ambientais, sanitários e, preponderantemente, fiscais e políticos. Sem falar do diferencial de crescimento em relação aos outros países, ao que tudo indica, sendo alargado pelos próximos anos.

Rodrigo Marques de Almeida, economista-chefe da Nest Asset, não tem grandes esperanças de que a trajetória em curso da moeda americana no Brasil seja sustentável por muito tempo. Com os dados que tem hoje em mãos, prevê um prazo de validade não muito dilatado para o movimento, tendendo a perder força em cerca de três meses. A moeda americana, antevê, pode até operar abaixo dos R$ 5 pelos próximas semanas por causa da Selic mais alta. No entanto, logo deve sofrer um repique, encontrando morada algo acima desse patamar.

As avarias deixadas pela pandemia na economia brasileira, diz, vão demorar anos para ser cicatrizadas. Trazendo, dessa forma, baixo potencial de crescimento ao país, independentemente do ritmo acelerado do exterior. O que pode implicar menor atração de capital em relação a outros países, incluindo emergentes.

A produtividade da economia brasileira foi duramente afetadacom o setor de serviços, responsável pela maior parte da geração de crescimento no Brasil, fechando postos de trabalho que não voltarão a ser reabertos tão cedo“, diz. “Faltará mão de obra suficientemente qualificada por muitos anos, dado o déficit educacional ampliado no país em meio ao isolamento social, para preencher vagas que demandariam maior capacitação, que se preenchidas aumentariam o potencial de crescimento da renda nacional.”https://f0a207619c406dfcf1b39a572490adbb.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Marques de Almeida vê o propalado “superciclo das commodities” com reticências. Acredita não bastar para dar suporte à recuperação nacional. “No curto prazo, a demanda por matéria-prima trará mais dólares ao Brasil, mas a bem da verdade não existe um superciclo como os anteriores” diz. O salto da demanda das commodities agrícolas, que ajudou a dar base ao crescimento do Brasil mais recentemente durante os governos Lula, passaria neste momento por uma espécie de voo de galinha.

Estados Unidos, China e Europa terão em gastos públicos com infraestrutura o principal alicerce de crescimento ao longo de quase uma década para frente. A oferta do setor metálico tenderia a demorar muito mais tempo para se equilibrar aos níveis de procura do que a de grãos, por exemplo, à quantidade de bocas para serem alimentadas no mundo. Mas o mercado das commodities metálicas, explica Marques de Almeida, não tem meios de segurar, sozinho, as pontas do câmbio no Brasil.

O chefe de investimentos da Kairós Capital, Fabiano Godoi, vê três razões principais para o dólar em reais se manter em queda por mais algumas semanas ou meses.

  1. Uma delas, a alta dos juros. Considerando o segundo ajuste em sequência de 0,75 ponto e outro já contratado pelo Banco Central para junho, os 4,25% ao ano a serem alcançados reencaminham a referência local para níveis semelhantes ao dos pares emergentes. Antes mesmo de subir para novos degraus, já seria devolvida ao país parte do potencial de atração de dólares perdida para emergentes como México, Rússia e África do Sul durante a pandemia;
  2. Godoi cita como outra razão para fortalecimento do real a relativa descompressão de tensões pós-aprovação do Orçamento de 2021. Ficou um furo no teto e outro acolá? Sim, casos do puxadinho extra-teto para pagamentos de auxílios-emergenciais e para acomodar emendas infladas por parlamentares. Mas o que foi assinado pelo presidente Jair Bolsonaro ficou “menos pior” do que poderia ser. “Para o mercado, em geral, incertezas são piores do que certezas que não são boas“, diz. “Alguns podem ter ficado mais e outros menos tristes com o que ficou definido, mas ao menos o imbróglio do Orçamento para este ano, finalmente, ficou para trás, colaborando para esfriar um pouco a sensação de risco fiscal então refletida no câmbio.”
  3. Fora isso, a despeito da CPI da covid nas manchetes, pesquisas apontam para recuperação da avaliação positiva de gestão Bolsonaro. Seja pela retomada do pagamento de auxílios emergenciais, seja pela queda do número de mortes na pandemia. Ainda que se possa discutir a responsabilidade presidencial na mortandade, o curso natural da doença o favorece. O que colabora para diminuir a sensação de risco e a busca por proteção que pressiona o preço do dólar a subir.
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Mas a moeda americana não ficou à toa 30% mais cara entre março do ano passado e deste ano. O principal problema de fundo não terminou, e subir juros não o apaga.

De acordo com Godoi, a situação fiscal brasileira pode estar sendo um tanto subestimada na comparação com os pares emergentes. Mas não muda o fato de que, na comparação, o Brasil está na situação mais críticaQuando a imunização aqui e no mundo estiver mais avançada, com os demais países tendo mais bala na agulha para crescer, a draga das contas públicas será ainda mais visível.

Como diz o ditado, é quando a maré diminui que se vê quem está sem calção. No caso, o peladão da vez será o Brasil…

“Quando se tenta usar um canhão para matar uma formiga, há efeitos colaterais. Não discuto a necessidade de se gastar como foi gasto pelo governo em 2020, mas a intensidade. São exemplos anedóticos, mas acho que todos conhecem alguém que tenha recebido auxílios na primeira leva que, talvez, não precisassem receber”, diz Godoi. “O Brasil já largou de posição degradável no começo da crise, com dívida equivalente a 75% do PIB, e começou 2021 bem pior, com algo próximo aos 100%.“https://f0a207619c406dfcf1b39a572490adbb.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

  • Para complicar mais o quadro, e potencialmente devolver pressão de alta para o câmbio em breve, não se sabe se o ritmo de gastos na crise será interrompido ou, para ficarmos no jargão pandêmico, será o “novo normal” de Brasília.

“Não se sabe, por exemplo, se teremos mais auxílios ou não quando acabar a rodada atual. Ou se virá um programa nova de transferências, como o Renda Brasil. E sempre tem uma discussão ou outra sobre mais ou menos emendas, e o quanto isso pode, ou não, furar o teto de gastos“, diz Godoi.

Na visão do gestor, as questões fiscais estão longe de solução. E, agravando perspectivas, os atores políticos de Executivo e Legislativo não parecem ter se dado conta da urgência do problema. “Antigamente, bastava o dólar subir um pouco para alguém no Planalto ou Congresso aparecer com uma solução que acalmasse o câmbio, mas o dólar subiu tudo o que subiu nesta crise e não parece ter bastado para que se entenda quais decisões realmente importam.”

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, também está no time dos que não se empolgam com o ritmo atual do preço do dólar no Brasil. “Por aqui, miramos para um dólar no fim do ano acima do patamar atual, aos R$ 5,35. Temos um potencial de depreciação a ser começado em breve”, diz. “Existe, sim alguma recuperação da economia local, mas muito gradativa“. Conforme explica, o mercado que tem seguido minimamente os fundamentos frágeis do Brasil, especialmente fiscais, é o mercado de juros futuros. Que segue com inclinação continuamente elevada, independentemente do rali recente não só do real frente ao dólar, mas também da bolsa.

Quem também não se anima com o curto prazo do dólar em baixa é Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama e professor do IBMEC-RJ“Sair de R$ 5,70 para R$ 5,20 não foi por mérito nosso, por reformas andando, nada disso. Foi por causa do cenário lá de fora e das commodities, que, aliás, explodiram ainda mais agora, mas por fatores extracampo“, diz. Os recordes recentes do minério, lembra, aconteceram muito em função do rompimento de relações entre Austrália, principal fornecedor, e China, principal comprador do mundo.

“Seria muito melhor se pudéssemos comemorar essa queda do dólar por feitos nossos, mas não dá. E talvez ela não se sustente por muito tempo”, diz o economista.https://www.youtube.com/embed/xGO1oCw8_Qg?origin=http://valorinveste.globo.com

Sanchez destaca que está correndo o relógio para a aprovação de reformas, que poderiam servir de motor para diminuir a sensação de risco nutrida pelo Brasil. Ou seja, para o real seguir se fortalecendo. “Não vai dar tempo,” diz. “Temos a solução, um Arthur Lira [presidente da Câmara] que mostra força, diz que vá fazer e acontecer, mas a gente sabe que muito em breve, se é que isso já não está acontecendo, as forças politicas começam a atuar olhando só para a eleição.”

A reforma que parece mais adiantada é a tributária. O que, para Espirito Santo, não chega a trazer esperanças de caminho fácil pela frente. “Não é uma reforma simples, os conflitos de rua recentes na Colômbia começarem, por exemplo, justamente por uma reforma tributária, mexe com muitos interesses”, diz. “Ela não sai estalando o dedo nem mesmo em momentos de tranquilidade, quanto mais durante uma CPI como a da covid, que deve se arrastar por 90 dias e antecipou de vez as eleições do ano que vem.

Se nada sair do papel no mais tardar até por volta de novembro, diz Godoi, da Kairós, tudo deve ficar para a partir de 2023. E bem antes disso daí a rota de queda do dólar pode já ter começado, outra vez, a ser de alta. Já que nada garante que numa continuidade da gestão Bolsonaro ou com seu sucessor reformas impopulares – tributáriaadministrativa privatizações – serão facilmente encaminhadas pelo Congresso. Essa incerteza incentivaria, naturalmente, busca por proteção na moeda americana.

O economista-chefe da Ativa, em raciocínio semelhante, vê como necessário um “alinhamento dos astros” para a pauta reformista vingar a tempo. E não acredita que acontecerá. “Se sair alguma coisa, será aquela coisa para inglês ver“, diz. O que explica, de acordo com ele, nem se cogitar no mercado o Brasil retomar o chamado “grau de investimento”, um selo de “bom pagador” conferido por agências de classificação de risco, perdido em 2015 pelo Brasil. Ao contrário, o temor corrente é por novos rebaixamentos. O que jogaria contra o fortalecimento do real.Tem saída? Tem, o ímpeto reformista, o choque de produtividade. Mas não consigo enxergar isso no horizonte. Os astros ainda estão desalinhados. Já está todo mundo no Congresso olhando em qual barco vai entrar para 2022, afinal de contas, é um processo de perpetuação do poder. Vai ser o barco do Bolsonaro? Aí pode ter alguma chance mais relevante. Vai ser outro? Daí precisamos ver quais serão as reformas propostas”, diz.

  • Para Marques de Almeida, da Nest, a proximidade das eleições justifica os esforços redobrados neste ano pelo Banco Central para puxar a cotação do dólar para baixo. Tradicionalmente, afinal, a moeda americana entra em rota de alta enquanto candidatos se engalfinham. Com o cenário polarizado a frente entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, não deve ser diferente.

Godoi pensa em linha semelhante. “Toda vez que se tem uma polarização exacerbada, o ambiente para riscos não é bom“, diz. “E por mais que exista um fator estrutural de busca por commodities brasileira, o que traz mais dólares para o país, devemos ter um período de forte busca por proteção, e especialmente no dólar, trazendo pressão de alta“.

Ou seja, o puxão atual para baixo no dólar cria uma espécie de gordura a ser queimada mais para frente. E pode impedir que a cotação em reais não fique acima da faixa dos R$ 6 em 2022. “Mas acredito que possa, sim, chegar para perto disso no próximo ano”, diz Marques de Almeida.

Nessa conta, no entanto, não entra só o Brasil. Depende também das pernas do próprio dólar, e não só das do real, seu preço continuar caindo ou passar a subir de volta nos últimos meses de 2021.

E, mais importante, do que o nível de crescimento da economia americana. Que, se demonstrar superaquecimento, pode fazer com que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) interrompa injeções de dólares do mercado. Um movimento que, desde março de 2020, faz com que a moeda fique mais escassa no mundo, e mais barata – ou menos cara – do que poderia estar. E, na sequência, subir juros e passar a atrair de volta para os títulos do governo americano dólares espalhados pelos bolsas do mundo todo. As mais arriscadas, caso da brasileira, seriam as mais atingidas.

“O Brasil é só uma pequena parte da engrenagem global, e a principal ainda são os Estados Unidos”, diz Godoi. “Naturalmente, as taxas americanas vão precisar subir, mas a forma com que isso acontecer importa. Se dados de inflação ficarem muito acelerados ou a geração de empregos reagir rapidamente, os juros americanos podem ter de subir antes de que se pensa, o que tende a ser ruim para mercados emergentes. A situação, aliás, ressalta a falta de senso de urgência de Brasília, que pode pode agravar ainda mais a situação do Brasil nesse cenário“.

Espirito Santo ressalta “a hora do vamos” reforçada para o Brasil a partir da retirada de estímulos nos Estados Unidos. “O mundo dos investimentos vai ficar ainda mais seletivo, e vão olhar com mais carinho para quem fez o dever de casa“, diz. “O cenário de retirada de estímulos pelo Fed, ainda mais severo se trouxer uma forte realização nas bolsas a partir de Nova York, inspira investidor fique mais conservador, apesar do comportamento bom no curto prazo. E, de novo, não acho que o Brasil tenha capacidade de sustentar esse ritmo recente dos ativos, incluindo o dólar, por muito mais tempo“.

O problema é que, com a perda de tração da economia brasileira já em 2022, vai ficar difícil para o BC subir muito os juros, em linha com as taxas americanas mais altas“, acredita Marques de Almeida. Dessa forma, portanto, seria ampliado o diferencial de rendimentos oferecidos pelo mercado nacional, mais arriscados, e o americano, mais seguros. E sem que a autoridade monetária possa correr atrás desse prejuízo, entende Marques de Almeida. Caso contrário, traria ainda mais perda de vigor à economia brasileira, já fragilizada. E o remédio seria pior do que a doença.

Na véspera (12),foi dado novo sinal de que a chuva de dólares pode cessar em breve. A pressão positiva da entrada de capital via a safra de grãos potente do Brasil impediu um tranco ainda maior. Quando os estímulos americanos secarem, de fato, e o boom das commodities agrícolas esfriar, pode não ser tão fácil para o real manter a pose. A conferir.

fonte: https://valorinveste.globo.com/mercados/moedas-e-juros/noticia/2021/05/13/prazo-de-validade-do-dolar-em-queda-deve-expirar-bem-antes-do-fim-do-ano.ghtml

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