Com seis meses completos em abril, o Helius Lux Long Biased é o fundo que mais sobe no quadrimestre entre os long biased. Valor Investe conversa com gestor para entender o sucesso
Seis meses é pouco tempo para um fundo de investimento se provar, é verdade. Mas não dá para dizer que o rendimento de 54,4% do fundo Helius Lux Long Biased, o primeiro da gestora Helius Capital, é pura sorte de principiante. Com apenas seis meses de vida, completados agora em abril, ele já despontou como o mais rentável do quadrimestre entre os fundos do tipo long biased, que operam comprados e vendidos em ativos.
A que se deve tamanho retorno? O Valor Investe conversou com William Leite, gestor do fundo e sócio-fundador da Helius, e Bruno Stuani, sócio fundador da casa e que compõe o time de gestão, para entender de onde vem o sucesso inicial do fundo e quem é a Helius na fila do pão.
Sem dúvida a estratégia de um fundo reflete mais as experiências e crenças do gestor do que o que o mercado está demandando. No caso da Helius, a trajetória de Leite em casas como Credit Suisse Hedging-Griffo, pela SPX e depois pela Garde Asset Management o ajudou a moldar um estilo próprio de gestão.
O fundo Helius Lux Long Biased pode ficar até 135% comprado, ou seja, tem uma boa margem de manobra para apostar a favor dos ativos e também contra. A maior parte do tempo, porém, é esperado que ele rode entre 50% e 100% – quanto maior, mais otimista; quanto menor, mais pessimista com o mercado de ações. Hoje, a gestora está perto de 100%, mais otimista que pessimista.https://d609c421c92d82de33700cb175255582.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
“Uma característica importante do fundo é que ficamos um pouco mais comprado do que a média dos pares de mercado. Outros fundos long biased rodam em uma casa de 40% a 70/80%, ou seja, menos comprados que a gente. O nosso diferencial é que carregamos mais posições de hedge [proteção] da carteira. Enxergamos que a combinação das duas coisas na maior parte do tempo, é mais efetiva do que não ter hedge e ser menos comprado”, explica o gestor.
Segundo Leite, o nível de proteções e de exposição do lado comprado varia conforme o preço do hedge. Se estiver mais barato, fica mais comprado, porém mais protegido. Se estiver caro, se protege menos, mas reduz a exposição. “Um fator importante que olhamos para definir se é melhor estar mais ‘hedgeado’ ou menos comprado é a volatilidade implícita dos instrumentos de hedge que usamos. É uma proxy [aproximação] do quanto estamos pagando por este seguro”, diz.
Se a volatilidade estiver mais baixa, eles colocam mais proteções na carteira porque geralmente está mais barato se proteger. Isso permite que apostem em mais ativos na posição comprada – operam “maiores”, no jargão do mercado. Não há uma meta, mas a intenção é que o fundo opere em torno de 70% da volatilidade do Ibovespa.
Para se proteger, gostam de fazer opções longas de ativos que têm na carteira, opções do índice Ibovespa e de ativos. Na prática, se colocam em posições de riscos opostos ao risco da carteira de bolsa. Eventualmente usam dólar e juros, mas sempre como forma de proteção e nunca como alavancagem. Para se proteger contra solavancos lá de fora, usam índices como S&P 500, Russell, Nasdaq e até iene (moeda japonesa) – tudo depende do perfil de risco que querem correr.https://d609c421c92d82de33700cb175255582.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Mas, então, como a equipe se valeu dessa estratégia de alta exposição e proteção para conseguir 54,4% de retorno, enquanto o Ibovespa rendeu 26,5% no período e o IPCA somado ao yield da IMA-B, outra referência para o segmento de long biased, só deu 6,2% de rendimento?
A “sorte” de iniciar um fundo depois de já ter passado o período mais nebuloso da pandemia pode ter ajudado, uma vez que possibilitou que a equipe de análise percebesse que a eleição americana poderia ser um evento importante, assim como avistasse a vacinação.
“Iniciamos em 30 de outubro e em 3 de novembro havia eleição americana. O Ibovespa estava em quase 94 mil pontos. Entramos otimistas, com a cabeça de que as ações de crescimento iam performar bem. Aplicamos, então, em tecnologia e e-commerce, além de um pouco em ações de valor, como Petrobras, Vale e bancos”, explica Leite.
Mas outro fator também contribuiu: a vacinação. Ao começar a ouvir notícias de que a vacina da Pfizer estava em processo adiantado, o time percebeu que era a luz no fim do túnel, que, mesmo que demorasse, já dava para enxergar uma saída para a situação da pandemia.
“Isso tem dois significados: crescimento econômico e a reabertura da economia, que tem implicações relevantes. Todas as empresas que performaram mal começaram a performar bem”, aponta o gestor. A aposta no crescimento global deu certo. A expectativa de que os bancos centrais mantivessem ainda uma política de juro baixo e injeção de liquidez também.
Apesar de ser uma casa de bolsa, os componentes macroeconômicos também são importantes na montagem da estratégia. Agora, por exemplo, a gestora monitora de perto o risco inflacionário nos EUA, que poderia levar o banco central americano, o FED, a subir juros, o que mudaria a dinâmica global de ativos. “Esse é o grande risco a ser monitorado.”https://d609c421c92d82de33700cb175255582.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Por ora, a expectativa é que o FED não mexa nos juros tão cedo. Se mantida essa perspectiva, a Helius está confiante da valorização de ativos de valor, como os bancos e ações ligadas a commodities. Como o Ibovespa tem um forte peso do setor bancário e de empresas ligadas a commodities – que juntos representam mais de 50% – por si só o cenário atual já deveria ser bom para a bolsa. Mas a situação macroeconômica do país está pesando contra.
“O ambiente macro aqui no Brasil não é dos melhores, com juros, dólar e renda fixa estressados. Ao mesmo tempo tem muito prêmio na mesa. Apesar do Ibovespa estar em 120 mil pontos, não sai do lugar quando comparado às bolsas globais. A correlação de empresas aqui com ativos lá fora está distorcida. A Vale é uma empresa global de minério de ferro e está sendo negociada com desconto enorme em relação à Rio Tinto, por exemplo”, explica Leite.
Na opinião do gestor, os valuations [valores das empresas] aqui estão descontados em relação a seus pares lá de fora, que subiram bem mais. Além disso, como os resultados das empresas – o lucro em especial – contribuem para ela aumentar de valor, há espaço para alta, uma vez que a temporada de balanços começou com bons números para algumas grandes empresas.
O fator que sempre atrapalha o mercado local, porém, continua atrapalhando: a política.
“O ciclo de commodities pode beneficiar muito o Brasil. Não tenho certeza se é suficiente para mais do que compensar outros problemas, como o político. Se você me perguntar se não fosse a política, a bolsa teria subido mais, eu te responderia: se não fosse o ciclo de commodities teríamos caído bem mais”, diz.https://d609c421c92d82de33700cb175255582.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Commodities é uma grande posição da atual carteira. A gestora está apostando em papéis como Vale em mineração, Usiminas e Ternium (México) em siderurgia, Petrobras e Braskem em petróleo e gás, entre outros ativos. Em bancos tem algumas pequenas posições, em especial nos digitais, como Inter, BTG, Pan e XP Inc.
“Estamos otimistas. Estamos bastante comprados e o mercado está dando oportunidade de proteger a carteira, se tiver acidentes”, finaliza o gestor.
O time de análise da Helius Capital tem seis pessoas. Além de William Leite, Bruno Stuani, analista de ações com passagens pelo Banco Pactual, UBS Genebra, Merrill Lynch Genebra, Tradewire Miami e Merrill Lynch Brasil, também está na liderança, como estrategista e Relações com Investidores.
Não há uma estratégia clara de alocação – ora avaliam a situação macroeconômica e sugerem setores específicos e aí partem para a escolha do(s) melhor(es) cavalo(s) para apostar; ora investem em empresas que acham ótimas, sem necessariamente considerar a conjuntura.
Neste caso, cita o investimento feito em Pão de Açúcar pouco antes do desdobramento do atacarejo Assaí. O setor de varejo estava de fora da carteira porque achavam que, com o agravamento da segunda onda de covid-19, não performaria bem. Mas compraram Pão de Açúcar porque já acompanhavam a empresa e gostavam do ativo, além de saber que o spin-off estaria por vir. Dito e feito, ganharam bastante dinheiro na posição.
O Helius Lux Long Biased é vendido em diversas plataformas de investimento, como BTG digital, Ativa, Genial, Órama, XP Investimentos e Singulare Invest.
fonte: https://valorinveste.globo.com/produtos/fundos/acoes/noticia/2021/05/13/gestora-helius-capital-estreia-no-mercado-com-retorno-de-54percent-em-seu-primeiro-fundo.ghtml