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Empresas no Brasil começam a investir em bitcoin, mas adoção ainda é tímida no país

Yubb e Empiricus são as primeiras brasileiras a divulgar investimentos, mas movimento é incipiente frente à onda capitaneada por pioneiras americanas, como MicroStrategy e Tesla. Fundo da Verde comprou cotas de ETF cripto, e BTG Pactual poderá ser primeira ação do Ibovespa com exposição ao bitcoin

Começa a se manifestar no Brasil, ainda que de forma tímida até aqui, um dos principais vetores da valorização recente do bitcoin: a compra de saldos da criptomoeda por parte de empresas.

São ao menos duas empresas com aquisições recentes: a startup Yubb, do buscador de investimentos de mesmo nome, e a casa de análises Empiricus.

Ao menos publicamente, são casos isolados até aqui. As maiores gestoras de fundos de criptomoedas no país dizem não ter conhecimento de empresas que tenham usado seus caixas para investir em cripto – a exceção é a Empiricus, que aplicou R$ 100 mil em um fundo da Vitreo.

Entre as plataformas de negociação de criptoativos, as exchanges, algumas relatam ter mediado compras de bitcoins por empresas, mas nenhum desses clientes torna público o investimento – a exceção é o Yubb, que detalhou ao Valor Investe como comprou bitcoins.

Algumas dessas exchanges lançaram nos últimos meses serviços exclusivos para clientes institucionais. A Foxbit, por exemplo, relata ter mais de 500 CNPJs cadastrados, mas não esclarece quais as dimensões e os segmentos dessas empresas. Mercado Bitcoin e Ripio também relatam conversas com empresas que se preparam para receber pagamentos em criptos e que, por isso, cogitam comprar bitcoins para compor a tesouraria, a exemplo do que fez em maio, no exterior, a empresa argentina Mercado Livre, que informou ter comprado US$ 7,8 milhões em bitcoins no primeiro trimestre.https://62bcd69604d8b6858023e28623e7f95a.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Há também companhias que passaram a ter participação em empresas do ecossistema das criptomoedas. É o caso da Méliuz (CASH3), que recentemente adquiriu o Acesso Bank, por sua vez parte da conexão da exchange estrangeira Binance com o sistema bancário brasileiro. Procurada, a Méliuz não quis comentar.

há, por fim, relatos de grandes gestoras de fundos fazendo aportes no setor ou nas próprias criptomoedas, como a Verde e a Leblon.

“Skin in the game”

Os investimentos desses negócios em bitcoins se alinham a uma onda de aplicações por empresas nos Estados Unidos, como Tesla e MicroStrategy, usando partes de seus caixas. Iniciada em 2020 e ainda em evolução, essa tendência fez a criptomoeda mudar de patamar.

Mas se para aquelas pioneiras americanas o fator de decisão foi a reserva de valor, ou seja, a aposta de que o bitcoin vai perder menos valor do que o dólar com a passagem do tempo, por aqui a motivação das empresas que divulgaram aplicações em cripto é mais simbólica.

Tanto Yubb quanto Empiricus lidam em seus negócios com os ambientes de tecnologia e de investimentos e acharam por bem sinalizar à clientela que bebem da água que oferecem – o chamado “skin in the game”, da expressão em inglês para se envolver com os mesmos riscos que os consumidores.

No caso do Yubb, o investimento em bitcoins foi feito em etapas, a partir do segundo semestre do ano passado. O montante comprado pela empresa, que mantém uma prática regular de vender e recomprar para se ajustar à volatilidade, tem hoje preço médio de aquisição de US$ 21.349 e equivale a 15% do caixa da startup – o bitcoin valia US$ 36.500 na quinta-feira (10).

“A mensagem é a mesma que vale para a pessoa física: se esse é o ativo mais transformador da atualidade, não faz sentido não termos exposição. Da mesma forma que uma empresa precisa ter um pouco de seu caixa em dólar, ela precisa ter um pouco em bitcoin”, diz Bernardo Pascowitch, presidente e fundador do Yubb.

Já no caso da Empiricus, o aporte foi de R$ 100 mil e foi realizado no início de 2021 por meio de um fundo da Vitreo, gestora com a qual compõe o grupo Universa. Ou seja, a casa de análises não comprou bitcoins, mas cotas de um fundo que aplica na cripto.

“É algo que viemos discutindo e foi natural; já trabalhávamos com criptomoedas desde 2017, e o Felipe [Miranda, estrategista-chefe e um dos fundadores] já tinha sugerido bitcoin aos assinantes quando o preço estava em US$ 10 mil”, explica André Franco, sócio e analista de criptoativos da Empiricus.

“Vimos os exemplos lá fora e quisemos nos posicionar como uma empresa envolvida nesse processo. Foi uma quantidade módica para o tamanho da Empiricus, mas foi o que consegui convencer o pessoal”, ele acrescenta.

A casa de análises foi recentemente adquirida pelo BTG Pactual na compra da holding Universa, em um negócio de R$ 690 milhõesIsso poderá fazer da ação (BPAC11) do banco – ainda que em proporção ínfima – a primeira do Ibovespa com uma conhecida exposição ao bitcoin.

Essa exposição, vale ressaltar, vai acontecer se a transação for concluída e aprovada pelos reguladores e será residual e indireta; a Empiricus será uma entre muitas empresas nas quais o BTG Pactual tem participação, e os R$ 100 mil aplicados pela casa de análises em um fundo de bitcoins são irrisórios perto das cifras da instituição – representam, por exemplo, 0,00021% dos R$ 46,8 bilhões no caixa e 0,000066% do valor de mercado, de R$ 150 bilhões. Mas, na linha do balanço do banco reservada às participações societárias, haverá um número influenciado, ainda que muito pouco, pelo investimento feito pela casa de análises.

Procurado, o BTG Pactual preferiu não comentar por estar em período de silêncio.

Além delas, a Ripio – empresa argentina do setor de criptomoedas que recentemente comprou a exchange brasileira BitcoinTrade – anunciou em maio uma aquisição vultosa de US$ 10 milhões em bitcoin e ethereum, “como estratégia de tesouraria”.

Movimento ainda é tímido na comparação com os EUA

Apesar das pioneiras movimentações de Yubb e Empiricus, o flerte de empresas – e de institucionais em geral – com o bitcoin ainda é tímido no Brasil. Nenhum dos dois casos citados chegou perto de TeslaSquare e MicroStrategy, que fizeram aplicações na casa do bilhão (no caso, de dólares).

Foi um sinal de largada para uma onda de adoção institucional que teve marcos como os anúncios de integração do bitcoin pela PayPal e pela Visa, elogios de bilionários e grandes gestores e a listagem da exchange Coinbase na Nasdaq, já em 2021.

A empolgação fez o bitcoin saltar de US$ 10 mil (R$ 50,6 mil) em outubro para US$ 65 mil (R$ 329 mil) em abril e rivalizar com o ouro nas recomendações para reserva de valor. Depois, veio um mês de forte queda, e o preço se fixou no nível atual, entre US$ 35 mil e US$ 40 mil.

  • Por aqui, além das empresas, outros vetores da onda institucional – gestoras e grandes fortunas – também sinalizam caminhar em passo lento rumo ao bitcoin. São minoria na clientela das exchanges, por exemplo, e ainda não abraçaram os fundos de cripto tanto quanto o público de varejo.

Uma dessas exceções é a Leblon Equities, que, segundo disse o gestor Pedro Chermont em edição recente do podcast “Stock Pickers”, da Infomoney, adquiriu ações da Coinbase – uma exposição indireta ao ecossistema do bitcoin. A gestora não respondeu ao pedido de entrevista.https://62bcd69604d8b6858023e28623e7f95a.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Outra exceção é a Verde, que, segundo o Valor Investe apurou, comprou cotas do ETF de criptomoedas HASH11, recém-listado pela Hashdex na B3, por meio de seu fundo multimercado master. Procurada, a gestora de Luis Stuhlberger preferiu não comentar.

Já a BlackRock, outra gigante da gestão tradicional de fundos, também preferiu não detalhar se vem replicando nos fundos disponíveis no Brasil a estratégia anunciada no exterior de investir em derivativos de cripto (e não nos ativos digitais em si).

No geral, a proporção de investimentos institucionais nos fundos é minoritáriaNa gestora BLP, por exemplo, mais de três quartos do patrimônio é de aplicações de pessoas físicas. A Hashdex não detalhou a parcela institucional em todos os fundos da casa, mas esclareceu que no ETF HASH11 essa proporção é de 18% no Brasil e de e 11% no exterior. A Vitreo e a QR Capital não responderam.

As grandes fortunas também estão presentes, mas em proporção diminutaUm levantamento do consultor financeiro Marcelo d’Agosto, colunista do Valor Investe, mostra que a participação dos fundos exclusivos, meio recorrente de investimento dos super-ricos, é baixa nos três mais volumosos fundos para profissionais no país: de 27% no Hashdex 100 Nasdaq Crypto Index FIM IE, de 8% no Vitreo Criptomonedas FIC FIM IE e de 1,5% no Hashdex Bitcoin Full 100 FIC FIM IE.

“Ex-hater”, fundador de startup almeja diversificação e engajamento

O estágio incipiente do tema entre as empresas brasileiras não parece abalar as convicções de Bernardo Pascowitch, CEO do Yubb. Paulistano de 32 anos e advogado de formação, ele decidiu comprar bitcoins com o caixa da startup que fundou em 2014 por três motivos:

“Se a gente trabalha ajudando as pessoas a buscar um portfólio diversificado, precisamos fazer o mesmo com o dinheiro da empresa. E o bitcoin é um ativo muito relevante, talvez com o maior potencial de valorização da nossa geração”, afirma.

Bernardo Pascowitch, fundador e CEO do buscador de investimentos Yubb — Foto: Divulgação

O segundo gatilho, diz, foi estar próximo da inovação. E ele relata ainda uma terceira preocupação, com atração e retenção de talentos. “A comunidade de bitcoin sempre foi ligada ao público de tecnologia: gamers, programadores, cientistas de dados. São profissionais que querem migrar seu dinheiro para cripto.”

Hoje, Pascowitch defende que mais empresas no país sigam o passo do Yubb, mas não foi sempre assimele já foi um “hater”, da expressão em inglês para detratores de um assunto ou personalidade, e só começou a investir em criptos em 2019, 11 anos após a criação do bitcoin.

“Eu era muito crítico. Não via sentido na descentralização, entendia que a segurança das moedas estava na emissão e no controle estatal. Mas fui estudando. Acho que muita gente passa por essa etapa por não entender o ativo, que de fato não é trivial em temas como mineração, criptografia, chaves, custódia.”

As compras de bitcoins do Yubb foram feitas em exchanges, e a custódia é realizada em uma carteira física off-line (“hard wallet”) – situações que não combinariam com uma empresa de capital aberto, ele pondera, mas que são condizentes com o contexto de uma startup de capital fechado com horizonte curto de caixa.https://62bcd69604d8b6858023e28623e7f95a.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

“Quando você pensa numa MicroStrategy ou numa Square, são empresas com caixas gigantescos e que conseguem conviver com quedas abruptas do bitcoin. Startup não tem esse conforto. Por isso, já vendemos em algumas ocasiões e depois recompramos. Mas isso não faz de nós traders, é um manejo de risco.”

Pascowitch diz que adoraria listar ações da startup no futuro, mas vê esse como um plano distante; agora, afirma, é preciso manter o foco em crescimento e inovação.

Mas se essa hora chegar, ele não teme ressalvas de autoridades com os bitcoins do Yubb – reguladores costumam preferir que a tomada de risco nos investimentos seja tarefa do acionista, e não da empresa.

“Acho que a regulação vai andar. E, se for um problema, posso vender os bitcoins e comprar cotas de fundos. O que me preocuparia seria o investidor ficar desconfortável.”

Ideal seria R$ 1 milhão, mas aporte foi passo importante, diz sócio da Empiricus

Maranhense radicado em São Paulo e hoje com 29 anos, André Franco narra com alegria a aplicação da Empiricus em bitcoins, embora não esconda que, se dependesse dele, o investimento teria sido maior.

“Foram R$ 100 mil. Dá menos que um bitcoin, mas foi uma vitória sair do zero, um primeiro passo. Na minha visão, o ideal seria R$ 1 milhão. Mas tem a posição da empresa, de uma operação que precisa de fluxo de caixa. Porque o ideal é segurar por ao menos cinco anos, esse é um período em que ninguém jamais perdeu dinheiro com bitcoin, nem em dólar”, explica.

Segundo ele, a opção por comprar cotas de um fundo de investimento, e não o ativo digital em si, se deu porque “não teríamos como fazer a custódia da maneira que seria a ideal”.

André Franco, analista de criptoativos e sócio da Empiricus — Foto: Divulgação

André Franco, analista de criptoativos e sócio da Empiricus — Foto: Divulgação

Por outro lado, não foi necessária muita persuasão junto aos sócios da empresa, ele comenta. “Uma vez iniciada a conversa, foi rápido. O fato de termos exemplos lá fora fazendo isso, de caras tão contundentes e relevantes, nos deu uma segurança”.

Sobre a possibilidade de as ações do BTG Pactual passarem a ter exposição – residual e indireta – a bitcoin, Franco pondera que outras empresas no índice talvez já estejam na mesma situação e nem saibam, principalmente por meio de aplicações em fundos soberanos que investem em bitcoin direta ou indiretamente.

fonte: https://valorinveste.globo.com/mercados/cripto/noticia/2021/06/15/empresas-no-brasil-comecam-a-investir-em-bitcoin-mas-adocao-ainda-e-timida-no-pais.ghtml

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